Que lições o governo pode tirar após o susto do 15 de março?

O governo federal toca a vida como pode nesta semana que dá sequência aos protestos de rua do último domingo. Atua na tentativa de não passar recibo sobre o susto que levou com as multidões nas ruas, justamente por não avaliar o tamanho da encrenca que estava caminho. Prova disso foram as entrevistas coletivas das duas 'pareias', ou parelhas de ministros, escalados para falar ao distinto público ainda na noite do domingo e na manhã desta segunda-feira – escalados para a clara tentativa de jogar água na fervura.
É a vida que segue, porque democracias mais ou menos sólidas como é o caso da nossa, não permitem que governos caiam de maduro ante o primeiro abalo. Impeachment, como bem sabem os líderes de oposição, não é ato de voluntarismo, porque depende de rito institucional e circunstâncias que, neste momento, ainda não estão dadas. A guerra, no momento atual, é de nervos – para ver quem pisca primeiro.
Dona presidenta ainda tem forte base de apoio e a caneta que permite preservar mandatos. Resta saber se saberá usá-los com discernimento, dado o clima de urgência que rodeia os seus passos após a marcha dos milhões pelas ruas do país. Sim, porque uma coisa é certa: fica cada vez mais difícil fingir que está tudo bem, na tentativa de vencer os insatisfeitos pelo cansaço.
O momento demanda ação, algo para além do puro ‘embromation’ visto nas manifestações de junho de 2013 e mais concreto do que os discursos ensaiados desde ontem, com promessas de reforma política e pacote anti-corrupção. Reforma política é a panaceia de sempre, que se retira da gaveta toda vez que o governo se vê encurralado pela pressão popular. Tudo estar a indicar que ela, a reforma política, e o projeto anti-corrupção não serão insuficientes para sossegar a turba. O buraco é mais embaixo e atende pelo nome de recessão. Por isso o tom de mais humildade da presidente nas aparições da segunda-feira.
O discurso de combate à corrupção é mero paliativo, porque ninguém, em sã consciência, vai acreditar que saia do forno deste ou de qualquer outro governo a solução que transforme os brasileiros todos em angelicais cidadãos. A corrupção não é mero detalhe na vida brasileira e tampouco está restrita ao sistema partidário-eleitoral. Quando as pessoas saem às ruas para gritar por mais ética na política, talvez se esqueçam de que a coisa não é tão simples. A mudança é de fundo e quanto mais difícil de acontecer quando o próprio eleitor não contribui para retirar os bandidos da política. Derrubar o governo petista para manter em seu lugar o PMDB corresponde a sacudir o telhado e manter intocados os pilares da corrupção sistêmica que atrasa o país.
Vacas gordas