'SEM PROMESSA' PROTESTA NA BR-135
Bloqueio da estrada federal para reivindicar asfalto poupa Bolsonaro e aliados. Bronca sobra para petistaImagens do protesto na BR-135 na última sexta-feira: após longa maturação nas redes sociais, movimento vai para a poeira da rodovia
O movimento "BR-135 Sem Promessas" conseguiu sair, na sexta-feira (4), do agito das redes sociais para uma manifestação no mundo real.
A iniciativa, nascida em fóruns no Facebook e grupo de Whatsapp, foi criada para reivindicar a retomada pavimentação no trecho remanescente de cerca de 50 quilômetros da rodovia federal BR-135 entre as cidades de Manga e Itacarambi.
Cerca de 120 pessoas, segundo os organizadores, participaram do ato que teve início com o bloqueio temporário da balsa da Confiança Navegação, que faz a travessia sob o Rio São Francisco entre Manga e Matias Cardoso, no extremo Norte de Minas, em direção à rodovia estadual MG-401.
Posteriormente, a caravana se dirigiu ao trevo da Icil Agropecuária (antiga Fazenda Cauê) em Itacarambi.
Nesse percurso, os manifestantes fecharam em três pontos a rodovia federal BR-135 com pneus usados e galhos de árvores retirados da mata seca que margeia a estrada naquela região.
ILHADOS
O movimento "BR-135 Sem Promessas" surgiu em Manga, cidade em que a população tem a sensação de estar ilhada em relação ao restante do Estado.
De um lado, há a travessia quase sempre demorada do Velho Chico, uma espécie de antessala para se enfrentar a esburacada rodovia Oswaldo Lopes Bandeira, a estadual MG-401, na direção de Montes Claros, via Janaúba.
No trecho até Jaíba, a MG-40, sob gestão do governo estadual, praticamente acabou. Transitar por ali é quase garantia de prejuízo e até risco de morte.
A outra opção é a saída sul para Januária, via BR-135, também com destino a Montes Claros, onde o motorista enfrenta lama no inverno e poeira na estação da seca.
Curiosamente, desde que os governos petistas pavimentaram a BR-135 na direção do Nordeste, ficou mais fácil para os moradores da microrregião de Manga acessar o Sudoeste da Bahia do que as demais regiões mineiras.
A VEZ DO POVO
O protesto, segundo o advogado e líder do movimento Maurício Magalhães, é uma tentativa da sociedade civil de pressionar a União para retomar o asfalto no único trecho da BR-135 ainda sem asfalto no Estado de Minas Gerais.
O argumento é de que a população delega à sua representação parlamentar há mais de 40 anos uma solução para o problema. Como o asfalto não chega, seria a hora das pessoas interessadas na pavimentação tomarem as rédeas do processo.
Há uma certa ingenuidade na tese, porque, bem ou mal, quem tem delegação para reivindicar em nome do povo são os deputados. Eles podem, por exemplo, brigar pela inclusão da verba destinada à rodovia no orçamento da União - inclusive destinando parte das suas emendas parlamentares para a obra.
Veja bem, reivindicar em nome do povo, não ‘fazer o asfalto’ como pregam os analfabetos em política que se apressam a criticar os políticos - muitas vezes por culpa deles mesmos que, para terem ganho eleitoral, assumem promessas que não poderão cumprir.
JOGA PEDRA NA GENI
Faixa exibida durante o bloqueio faz crítica ao depuatdo Paulo Guedes, o que dá tom político ao protesto que nega essa característica
Com viés majoritariamente bolsonarista, o ato realizado pelo ‘BR-135 Sem promessas’ poupou o atual presidente da República e seus aliados de turno na região - notadamente o multimilionário e deputado estadual Arlen Santiago (Avante).
Desde o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em agosto de 2016, Arlen avocou para si, sem sucesso, a paternidade do asfalto.
A bronca dos manifestantes sobrou mesmo foi para o deputado federal Paulo Guedes (PT), única figura pública criticada nas muitas faixas exibidas durante o protesto.
Guedes, que já esteve na linha de frente na briga pela pavimentação da rodovia, foi para a oposição desde o impeachment de Dilma, mas ainda assim, foi cobrado pelo atraso na obra. Uma faixa afixada em um dos bloqueios citava o parlamentar.
A acusação de que o petista "atrasa a região" retira do movimento o seu alegado compromisso de ser apolítico, na medida em que ataca um deputado petista, mas poupa Arlen Santiago - o autoproclamado 'pai' da estrada - e o governo Jair Bolsonaro, que nada fez pela retomada da pavimentação, embora o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura) tivesse se comprometido com a causa.
ACRÍTICO