Açodados pelo bolsonarismo recalcitrante, populares tentam barrar reajuste para salário de vereador na Câmara de Manga
Momento em que a brigada militar chega à Câmara Municipal para retirar os manifestantes contra o aumento dos salários
Falta de sintonia com o momento que o país e município atravessam, para ficar na análise mais generosa; e outro tanto de ganância, somados ao que parece ser incompreensão da função pública de representação, numa avaliação mais extrema.
Como resultado desses fatores, os vereadores de Manga aprovaram por oito votos a um, em sessão extraordinária da quinta-feira (27), projeto que reajusta em 20,6 % os valores dos seus próprios salários. Não era um bom momento para que os parlamentares concedessem a si mesmos o regalo superior a um salário mínimo vigente no país.
A notícia de que os parlamentares estavam reunidos em suposta sessão secreta para votar o auto-aumento levou pelo menos 30 manifestantes para a porta da Câmara Municipal. Houve um princípio de tumulto com a tentativa de invasão do plenário da Casa. Na refrega em que houve muitos xingamentos e insultos aos vereadores, a Polícia Militar foi chamada para acalmar os ânimos do populacho.
‘ME INCLUA FORA DESSA’
O vice-presidente da Mesa Diretora da Câmara, o vereador Jackson Cunha, o Jacó (Republicanos), havia assinado a indicação para a inclusão na pauta de votação do projeto de lei complementar que também reajustou os salários de servidores da Casa em percentuais que variam entre 10% e 48%. Na hora ‘H’, com a matéria submetida ao plenário, voltou atrás e retirou seu apoio ao aumento.
Durante a tentativa de invasão à Câmara, Jacó foi aplaudido por alguns eleitores, movimento que ainda persiste na internet, com destaque para o que seria sua posição “em favor do povo” no momento em que a cidade enfrenta a crise da inundação provocada pela abertura das comportas da represa de Três Marias, que levou o Rio São Francisco a avolumar sua maior cheia em 40 anos.
ESTORNO
Um porta-voz da Câmara de Manga disse ao site que houve tentativa de jogar a população contra os vereadores e que não é verdade que os salários dos parlamentares foram reajustados com ganhos reais. Segundo justificativa da mesa diretora, o projeto apenas corrige as perdas inflacionárias acumuladas desde o último reajuste, em dezembro de 2018.
Com a guinada no seu voto, o mercurial Jackson 'Jacó' Cunha foi para as redes sociais fazer proselitismo da sua postura em favor do povo, o que deixou seus oito colegas de parlamento numa saia justa sem precedentes, expostos à ira popular nessas mesmas redes insociáveis - onde têm diso premiados com apupos impublicáveis.
A bronca dos parlamentares tem uma razão: o ‘bom mocismo’ do colega Jacó não vai impedir que ele também seja beneficiado com a medida que eleva os valores pagos aos vereadores dos atuais R$ 6.688,92 para R$ 8.042,34.
Jacó vai embolsar, já a partir da próxima semana, o acréscimo superior a um salário mínimo ao próprio salário. Vai devolver a diferença?
Procurado pelo site, o vereador diz que já estuda com a sua assessoria uma fórmula para devolver a diferença do salário para a população. Jacó também rechaça a acusação de que tenha sido o responsável pela manifestação contra a Câmara.
“Nenhuma manifestação foi convocada por mim. Solicitaram a pauta da reunião e divulguei, visto que é (ou deveria ser) um dos princípios da Câmara: transparência e divulgação das reuniões e pauta. A população, no seu direito, se manifestou”, diz o parlamentar.
POVO NA PRAÇA
Como não é crível supor que as pessoas saiam de suas rotinas para tentar impedir na marra que os vereadores aumentem seus próprios salários, os vereadores avaliam que houve incentivo ao levante.
Uma fonte disse ao site que o protesto parece ter sido convocado pela oposição ligada a um ex-prefeito que partiu para o exílio e de empresários de viés bolsonaristas, particularmente insatisfeitos pela forma como a administração - que não tem nada a ver com a Câmara de Vereadores - conduziu as manobras de drenagem da água que invadiou a lagoa do Parque Uirapuri, com danos materiais e prejuízos advindos da suspensão de suas atividades comerciais.
ESAÚS TRAÍDOS