Com a simpatia ainda envergonhada do mercado financeiro, Moro se posiciona para tirar Bolsonaro do Jogo e enfrentar Lula no 2º turno
Moro (ao centro) sonoha desbancar Bolsonaro e enfrentar Lula em segundo turno. Doria e Ciro têm com pouco espaço na disputa
Vista com os óculos destes meados de dezembro, a sucessão presidencial caminha para a polarização entre Lula (PT) e Bolsonaro (PL) - com atraso de quatro anos no duelo entre os dois, graças à intervenção sub-reptícia do juiz Sérgio Moro nas eleições passadas.
Pelas pesquisas atuais, Lula tem vários corpos de vantagem sobre Bolsonaro (46% a 23% das preferências espontâneas do eleitor). Ambos seguem distanciados do pelotão que se oferece para o tão sonhado papel da terceira via, especialmente um nome de centro ou direita que se destaque entre os postulantes e arranque para superar Bolsonaro em eventual segundo turno.
Até aqui - e tudo pode mudar -, quem melhor se posiciona para essa missão é o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos). A entrada de Moro no jogo sucessório assustou o bolsonarismo, mas o ex-juiz ainda precisa mostrar a que veio. Ele tenta atrair o eleitor de direita decepcionado com o jeito tosco Bolsonaro de ser.
SEGUNDO TURNO
Se conseguir passar Bolsonaro, Moro terá boas chances de enfrentar Lula no segundo turno, já que seu eventual crescimento praticamente nas preferências praticamente anula a possibilidade do petista liquidar a fatura antecipadamente.
Moro tem a seu favor o fracasso do atual governo, mas vai precisar explicar o porquê de ter usado o Judiciário em seu projeto político - além de vencer as resistências do meio político, ressabiado com os excessos da operação Lava Jato.
De resto, Moro sai na condição de balão meio cheio, mas candidato de pouco ou nenhum conteúdo em temas cruciais para o país. Moro era juiz e, nessa condição, seu histórico não é bom. Embora a turma do dinheiro graúdo já comece a piscar para ele, não é pequeno o risco de, mais uma vez, se eleger um despreparado para a Presidência do país.
CAMINHO ÁRDUO
Se o caminho para consolidar uma terceira via não está fácil para Moro - em certa medida uma novidade na disputa - , ele é ainda mais íngreme para o governador de São Paulo, João Doria (PSDB) e para Ciro Gomes (PDT).
Doria tem dificuldades até mesmo em São Paulo e precisa resolver a conturbada ambiência intrapartidária, bastante abalada após as prévias em que derrotou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
Doria tomou o PSDB a muque, mas conquistou inimigos, entre eles o ex-governador Geraldo Alckmin e o deputado Aécio Neves, este último envergonha a memória do avô Tancredo Neves ao se tornar bolsonarista de carteirinha. Além de Eduardo Leite, que já flerta com Sérgio Moro.
O NÓ DE CIRO
Dória e Ciro estão embolados, na margem de erro, ali na faixa dos 5% das intenções de voto, embora Ciro pontue melhor quando não há Moro entre as opções disponíveis. O ex-governador do Ceará tem a seu favor o recall da eleição anterior, quando recebeu 12,47% dos votos válidos.
Mas há um complicador para Ciro: para chegar ao segundo turno, ele precisa retirar parcela do eleitorado do líder Lula e ainda atrair parte da turma da centro-direita. Não parece tarefa fácil.
TENDÊNCIAS
Apenas como tendência, o que pode acontecer nos próximos meses é Sérgio Moro atingir seu teto antes de passar Bolsonaro, o que mantém a eleição na polarização já estabelecida. Na hipótese contrária, o jogo muda para uma final emocionante, em que Lula e seu algoz na cadeia de Curitiba vão se encontrar frente a frente.
Moro já passou a ser o preferido dos mercados financeiros, após o fracasso do governo Bolsonaro e das porra-louqices do ministro Paulo Guedes, aquele que anda com a cabeça no mundo da Lua ou numa offshore qualquer.
Sobram as hipóteses pouco prováveis do possível crescimento de Dória e Ciro. O jogo sucessório teria novas nuances e emoções caso aparecesse alguém até aqui fora do radar e com mais chances para aglutinar as insatisfações dos eleitores anti-Lula e anti-Bolsonaro Pouco provável.
Para além dos nomes já citados ainda temos o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), a senadora Simone Tebet (PMDB) e o cientista político Felipe d’Ávila (Novo). Nenhum deles, até essa altura, com potencial para disparar nas pesquisas e jogar o jogo de gente grande.